Encenações

sexta-feira, 29 de abril de 2011

"Salta na roda" ou um caminho criativo.

Estava ali parado diante da calçada observando o vai e vem das pessoas no centro da cidade. O dia estava lindo e o sol muito quente. Minha cabeça explodindo de dor e meus olhos tentantando filtrar aquela algazarra de sons e cores. Em meio a esse turbilhão estava eu pensando nos mecanismos que possibilitam a criação de significados para a arte de ser ator, de ser artista. Alguns apontam a disciplina como primeiro pilar para o desenvolvimento de qualquer trabalho. Diria eu, que ser disciplinado é o primeiro passo, porém ter a cabeça voltada para o inusitado é o outro. Explico melhor. Estava eu lá na calçada e de repente surge um grito "Olha eu passando". Era um artista de rua, um mixto de acrobata e contorcionista. Com um pé na cabeça, ele chamou a atenção de todos para começar seu show. Sacou de sua mala um aro de bicicleta sem pneu, com pregos no lugar dos raios, na tentativa de impressionar a todos pois iria executar seu número mais perigoso. O "Salto na Roda". Com um furor e uma forte presença de espirito, ele conquistou a todos, ao ponto de usar os passantes em seus números, para criar efeitos sonoros. O encanto estava presente no corpo do artista e dos que o assitiam... um texto entre eles circulava. Um entendimento que não precisava de palavras ou explicações, todos se divertiam e participavam ativiamente daquela innusitada intervenção. E o que este acontecimento tem haver com meu ofício? O segredo está no risco. Aquela pessoa que não sei o nome, propos-se estar em instante de comunhão com  o espaço, o tempo e as ações. Ele ignorou todos os protocolos ao romper o cotidiano da cidade, levando os que o assistiam a perceber, ou simplismente vivenciar um outro estado de presença particular. Poucos minutos depois, minha dor de cabeça havia passado, não por cura divina, mas por um deslocar-se ativo de minhas sensações. Aquele momento, com aquele artista sem nome, me deixou cheio de certezas sobre o meu fazer: não negar o que o instante pode nos reservar no ato da apresentação, no tempo presente que não esconde nada: suor, ansiedade, medo, sorriso... Ser artista é estar entre o risco de opinar, de fazer e de viver diferente.